terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

As virtudes humanas na infância


Educar é sem duvida ajudar a moldar uma personalidade, ajudar a enfrentar todas as dificuldades começando pelas dificuldades internas – as nossas limitações.
Sabemos que a educação começa com o nascimento do filho, que não termina nunca (por muito assustador que possa parecer!) e que não é da exclusiva responsabilidade dos pais – embora sejam estes os primeiros e principais educadores.
A educação é sempre um processo único, singular e personalizado, que não tem pausas nem férias e que exige dos pais uma comunicação constante de valores que se vivem pessoalmente. Se pensarmos bem estamos sempre a educar os nossos filhos, estamos sempre a ser exemplo para eles, quando estamos a falar com eles ou exemplificar-lhes especificamente qualquer coisa, mas também em todos os outros momentos que nos observam, quando cozinhamos, quando conduzimos, quando falamos com um adulto na sua frente seja qual for a temática… As crianças precisam de modelos e geralmente gostam de imitar os pais e fazer como eles fazem. Há-de chegar uma altura, em que a criança consegue entender que há coisas que os adultos podem fazer e ela não, mas quando são pequenas as crianças têm dificuldade em perceber que há “coisas dos grandes” e daí a enorme importância de cuidarmos bem todas as nossas atitudes e discurso.
Quando nos debruçamos a pensar sobre a educação dos nossos filhos, pensamos claro está nas virtudes humanas, fala-se tanto na crise económica, mas arrisco-me a dizer que vivemos neste momento uma grande crise de valores, esses valores humanos que nos permitem a todos vivermos mais felizes como pessoas e socialmente mais completos. Valores como a humildade, a generosidade, a obediência, a amizade, a audácia, a justiça, a paciência e a sinceridade entre tantos outros, são de extrema importância na educação das crianças, na formação do seu carácter.
Se nos focarmos nas crianças mais pequenas, podemos centrar-nos em alguns valores que formarão como que uma boa base de estrutura de personalidade nas crianças.
Falemos pois de obediência, uma pessoa obediente é aquela que aceita como próprias, instruções dadas pelo seu superior hierárquico, desde que não vão contra o que é justo, e actua prontamente para levá-las a cabo, de preferência com um sorriso. Analisando pois a obediência, e como a educação é comunicação de valores que se experimentam, o primeiro passo é analisarmo-nos a nós próprios e perceber se de facto somos pessoas obedientes ou pelo menos nos esforçamos nesse sentido, reconhecendo a importância desta virtude. Ser obediente pode ser analisado não só no trabalho ou em contextos específicos de chefia, mas também no próprio lar, quando os pais pedem coisas um ao outro por exemplo. Como gerimos estes pedidos que nos fazem? Como os sentimos e que expressão fazemos quando os recebemos? Como lidamos com a autoridade?
É muito importante uma criança obedecer aos pais, uma criança obediente vai entender os seus limites, cumprir as regras que os pais estabelecem o que a vai ajudar não só presente mas também na sua vida futura.
Além de ser exemplo de obediência os pais devem ajudar as crianças a obedecer ensinar-lhes como se obedece e as coisas boas que tiramos daí.
As crianças podem obedecer por medo, ou porque não há outro remédio a não ser cumprir. Estes são motivos muito pobres. Devemos animá-los, a cumprir por amor, para ajudar os seus pais, e assim começar alguns primeiros passos com relação à virtude da generosidade.
Tão importante como a obediência para criar uma boa base de personalidade é a sinceridade, uma pessoa sincera é aquela que diz o que pensa, quando apropriado, à pessoa indicada, no tempo certo e no contexto adequado. As crianças podem mentir e é natural que o façam, mas também é bom que os pais corrijam desde cedo essas mentiras e incentivem as crianças a dizer sempre a verdade. Atenção que este “dizer sempre a verdade” não retira à criança a possibilidade de brincar no seu mundo imaginário tão construtivo e divertido para ela, neste mundo do fantástico as crianças podem e devem ser livres de fantasiar, é bom é que se lhes explique a diferença e se as ajude a dizer a verdade nos outros contextos que não os da brincadeira.
Sermos exemplos de verdade implica não mentir nunca, nem em coisas pequenas nem em coisas grandes. Se dizemos a uma criança que não se mente e depois quando a levamos atrasada à escola dizemos à professora que apanhámos trânsito quando na verdade não nos levantámos a horas, isso não vale! Vamos baralhar a criança e estas atitudes vão ser altamente desconcertantes para ela, poderá ficar a pensar algo do género: - “Mas o meu pai disse-me que não se mente e nós não apanhámos trânsito nenhum.”
Por último mas não menos importante falemos na virtude da ordem, ser ordenado, arrumado, conseguir usar bem o tempo e lembrarmo-nos das nossas responsabilidades.
As crianças gostam e precisam de rotinas, e as rotinas ajudam-nos muito na virtude da ordem. É preciso ajudarmos as crianças a não desperdiçar tempo, a saber usar o seu tempo livre com produtividade. É preciso ajudarmos os nossos filhos a pensar antes de agir, fomentar que ordenem as suas ideias e clarifiquem os seus pensamentos.
É bom que as crianças percebam que tudo tem um principio, um meio e um fim, isto passa por exemplo quando são pequenas entender um jogo, pensemos num puzzle, retiram-se as peças da caixa, constrói-se o puzzle, arruma-se no fim. Este processo é educativo a longo prazo e permite que a criança tire mais proveito das suas brincadeiras. Por vezes as crianças tiram um brinquedo, depois outro e mais outro e não exploram nenhum na verdade. A virtude da ordem pode inclusivamente ajudá-las a fazer melhor aquilo que fazem tão bem: BRINCAR!
Estas três virtudes formarão uma base sólida para que a seguir a criança adquira mais virtudes na próxima etapa, todas as outras virtudes não podem nem devem ser descuradas da educação, no entanto devemos ser sensíveis ao facto da criança pequena não ter capacidade de entendimento para desenvolver a humildade por exemplo. Digamos que até à entrada para a escola se conseguirmos que as crianças sejam verdadeiras, ordenadas e obedientes não é mesmo nada mau!

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